segunda-feira, 5 de abril de 2010

Alma, olhos, vazio, busca...

Lembram do meu amigo velhinho com doença degenerativa? Ele faleceu 23:30 do último Domingo de Páscoa. Ligaram para a minha casa e a night support me acordou pra dar a mensagem. Queriam que eu fosse para o hospital ver o corpo. Lá chegando depois de rezar na presença dos espólios eu sentei com os demais membros da comunidade que ali estavam e começamos a preparar as celebraçoes funebres. Falamos entre outras de um momento onde a comunidade sentaria junta e cada um traria lembranças sobre o meu amigo... O tempo passou entre decisões rápidas e práticas após as quais voltei pra casa e dormi com aquilo na cabeça... O que eu tenho pra contar dele?
Hora, quando eu cheguei a essa comunidade ele já nao falava ou andava e nem mesmo comia com a boca pois o alimentávamos através de uma sonda estomacal... Mas mesmo nessa tão limitada circunstância eu não posso dizer que ele não tenha me ensinado muito...
Eu já escrevi sobre a beata Miriam de Jesus Crucificado, que teria passado por uma grande provação onde sua alma parecia mergulhada numa grande treva e só de vez em quando a alma poria a cabeça fora do mar de escuridão e surgindo por um pouco de tempo se recomporia por mais um profundo mergulho. Eu também já escrevi que o meu amigo parecia estar mergulhado num profundo mar de inconsciência, mas que de vez por outra recompunha sua alma(consciencia) e se comunicava através de seu olhar, era como se ele me disesse "estou acordado".
Pois bem, eu acho que começei a aprender com meu amigo a reconhecer quando a alma está acordada através do olhar, quando a pessoa não está perdida nela mesma e se apresenta viva e atenta... Ora, muitos são os olhares turvos, mareados e inconscientes ao meu redor. Hoje mesmo, quando eu tomava meu banho, olhei no espelho e vi que meus olhos não comunicavam nada do que se passava dentro de mim, minha alma está tão dentro dela mesma que não vivifica o meu ser...
Com o meu amigo eu aprendi a ler o olhar, mas eu não aprendi ainda a responder quando os outros me chamam, eu não aprendi ainda a acordar pra vida ao meu redor e apoiar/ajudar aqueles que me chamam muitas vezes apenas pra me ajudar... aqueles que me chama pra me amar... aqueles que me chamam por que precisam de mim pra algo...
Naquela cama de hospital, o corpo dele jazia com os olhos entre abertos, mas eu olhei e eles estavam vazios, não havia mais alma perdida nas trevas. não havia mais o meu amigo neles... O meu amigo partiu pra luz do ressuscitado. Party all the time, party all day como diria o refrão da musica do sucesso no Canadá. Só eu fiquei procurando uma centelha de luz, uma pista, algo esquecido por ele, mas nada, só a noite reinava e eu buscava...

Obrigado amigo, e por favor continue a me ensinar como acordar para cada um ao meu redor quando receber o chamado deles...

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